A vida em sua mais extensa concepção...
Minha Poesia
Estritamente minha
É minha folia
Minha companheira
Minha parceira
De extrema compreensão
Minha poesia
É minha porque está em mim
É minha tristeza e minha alegria
As festas populares de meu estado
As coisas que me acompanham ao longo do dia
Meus amigos e os que se declaram meus inimigos
A loucura e sanidade
Convivendo em total harmonia
Minha poesia é meu choro
E meu silencio
E meus gritos noturnos
Em hora que ninguém pode ouvir
Nem saber
É os meus segredos
E os segredos de todos que pude conhecer
E mais ainda dos seres
Que estão ao meu lado
E ao meu redor
A ciciar-me como intuição
Declarando vontades e necessidades
A deixar em mim
Angustias que não podem ser de um ser só
É a luz que continuamente me alumia
E as canções que ouço
Em modo continuo
E um abismo no qual posso cair
E ir até o fundo do poço
E descobrir o que tem lá
Outros poços mais abissais
Mais escuros e mais temerosos
Todavia atraentes
Porque enigmáticos sussurros
Vêm ora maviosos
Encantando quem pode ouvir
Ora escabrosos e apavorantes
Em línguas que nesse mundo não se registrou o existir
Minha poesia é canção
E liberdade e maldição
Que não me deixa de atrair
E mais bela fica
As melodias que posso sentir
À medida que vai me tomando a compenetração
E tomo formas leves
Flutuantes, fluídicas
Como que preparação necessária
Para adentra-me a procurar quem cantar
Em momentos aleatórios
Desencadeados por qualquer ato
Ou visão
Que meus sentidos vêem ou sentem
Provindos de um outro ser
Ou não
Vivo ou não
Humano ou não
Uma figura, uma coisa, um vazio,
Ou a sintonia de uma solidão
De uma alegria ou dor
De um gesto de amor
Ou desprezo
Seja o que for
Qualquer coisa,
Como nome ou sem nome
Que me cerca ou na distância se encontra
Sentimentos afins e contraditórios
Sou como um repositório
Das energias que nem todas sem ler
Minha poesia é vida
Mas também é vontade de morrer
E são tantos sentis
É tão dilatado o meu coração
Que a agonia me assoma
Todos querendo se mostrar
E nesta hora em que meu ser no limite do se descontrola
Ouvi, a minúcia, devagar,
Como chuvisco e sol combinados
O sol evaporando o que poderia molhar
É nesta hora
Que ela se revela
Minha poesia disforme
Mas com precisão
E faz da dor suprema de tudo sentir
Uma canção
E é como se todos os sinos
De todas as cidades do mundo
Badalassem a mesma ladainha
A convidar os fiéis a largar seus afazeres
E por um momento
Na grande nave
Com prazer viessem cantar
E cantassem cada um seu hino,
Sua música preferida
Seu humhumhum
Seu murmúrio mais apreciado
E todas aquelas vozes reunidas
Timbalassem retumbantes no meu coração
E dessem ao meu ser
Não apenas o equilíbrio para caminhar e ver
Mas a paz infinita
Que me consola o coração
E dar sentido ao meu ser
E da loucura que sociedade me diz ter
De cada vez que alguém pensou
Ou falou, ou comentou,
Fizesse uma partitura
E agora, mais leve, mais leve ainda,
Eu não apenas pudesse andar
Mas voar,
Porque minha poesia
É mais que magia
É mágica que liberta
E faz libertar
E dar sentidos a sentidos reprimidos
Escondidos nos cernes dos seres
Que para ela olhar
E ler
E degusta-la
Como se fosse comida de vento
Mais que é dos mais puros alimentos
Que raramente se pode encontrar
E então quando estou assim comovido
Sem conhaque, nem Drummond,
Desejo ver que canta
E vejo
Mais não sei fixar o olhar
Pois no interior que vejo
É de tom penumbroso a realidade
E os seres que ali vivem
Dificilmente querem se mostrar
E quando vejo um
Este mesmo já não vejo
É outro que aparece em outro lugar
E assim em cada instante
Tem sempre a quem ver
Tentar conhecer
Mais principalmente contemplar
São belos
E são terríveis
Todos são filhos do ser hibrido
Nascido da copula razão-emoção
E estão sempre nascendo
Como os seres do Criador
Que nunca para de criar
E de cada um eu sinto um como que um dor
A dor de ser
De existir
E não poder viver...
Minha poesia
É uma realidade e uma fantasia
Que jamais vai terminar
Porque basta eu ver quem canta
Para outra e mais outra canção começar
E os sentidos que me dão
Faz com que ouça a todas
Me imbuia-me de todas
Sem de elas fazer confusão
Minha poesia é minha paixão
Está presa dentro de mim
E é minha eterna prisão...
E isto que escrevo
Que revelo aos teus olhos
Não é meu
É teu
Por que a poesia não tem dono
Quando solta para mundo
É da humanidade inteira
Mas principalmente
De quem está lendo
E sentindo o revolvimento por dentro
Como se uma força, uma coisa, sei lá,
Em si fosse acordada
E fizesse de forma ainda não experimentada
Bater o coração...
Minha poesia não é esta
Porém de onde esta veio
Quebrada e colada assim mesmo
Por que nascer dói
E construir destrói
A poesia que digo minha
Não pode sair de mim
É presa a mim
E é minha prisão
É todos os meus sentidos
Os de nomes e os inominados
Sentimentos que existe no íntimo
De cada parte que sou...
Isto é de quem puder sentir
E mais sente
Aquele que tem aberto coração....
Minha poesia
É a poesia de todo mundo
Pois que todo ser
Tem em si seus próprios meios de sentir
A vida em sua mais extensa concepção...