Missivista
"Cartas,
você só me mandou duas
e elas já tem suas linhas gastas
das vezes que as reli pela última vez:
eu sempre me prometo uma última vez.
De meus amores todos,
você foi a que menos me escreveu
e a única que ignorou meu desespero
ao tentar me escrever em você.
Em verdade, porém,
é mais fácil percorrer com os olhos sua escrita
do que seu corpo com minhas mãos
e essa dificuldade afastou a que escreveu
da que queria ser lida como real.
O que me sobrou foi aquela carta
na qual você assina: "Sua, sempre sua!"
e essa minha vontade de requisitar minha posse."