Indigente (poema gótico)

Procurei

Durante anos, milênios,

Um amor assim:

Vestes de sangue,

Gosto ruim e inodoro,

Na contradição dos sonhos,

Pois quis um amor medonho,

Um Lúcifer, um Belzebu.

Procurei em ti,

O furor de um lobisomem,

Ousadia de um Sade,

Sem conversas de comadres,

Um ser indefinível, único, meu.

Acabei morta,

Largada numa gaveta fria,

Sem reclames de família,

Sem pertences, indigente,

Condenada a ser menos que gente,

Pois o amor era só meu.

De ti descaso, agravo,

Roubou-me a alma,

Na manha, na calma,

E na surdina escafedeu...