Malmequer despetalado
Releio as páginas de minha vida:
Invade-me um misto de decepção e
Desencanto ao constatar
Que construí um império ignóbio e
Que não passei de um imperador ignoto.
Revejo uma trajetória tortuosa,
Cheia de altos e baixos, muitas omissões,
Alguns atos de bravura . . .
Acovardei-me diante de algumas situações,
Em outras, demonstrei destemor;
Não há grandes conquistas,
Não há nada que valha encher-me de júbilo.
Teci, no decorrer dos anos,
Muitos sonhos ornados de inflamadas pompas,
Mas o tempo os devorou impiedosamente . . .
Viver é muito perigoso . . .
Machuquei-me tantas vezes! . . .
As feridas não cicatrizam nunca . . .
Pelo caminho, encontrei quem soubesse tocar,
Cruelmente, nas feridas, fazê-las sangrar . . .
Horas amargas que despertaram em mim
Ímpetos de vingança, vontade de trucidar,
Da matar pouco a pouco,
Gozando o desespero do tormento,
A agonia de ver esvair-se, romper-se a vida . . .
Outras vezes, encontrei quem soubesse despertar em mim
Sentimentos de ternura, de amor . . .
Horas de colorido primaveril,
De sol despontando em todo seu esplendor
No horizonte marinho,
Sorriso de cascata que enche de alegria
O universo tranqüilo da floresta de alheamento
Em que me refugio . . .
Ergui uma muralha de indiferença em torno de mim,
Vesti a máscara e esqueci-me de quem sou
Para ser o que desejam que eu seja:
Um estrangeiro, um rosto na multidão . . .
Desfolhando a rosa do viver, o malmequer da vida . . .
Oliveira