AS MULHERES DA MINHA RAÇA

Senhores

as mulheres da minha raça

não são feijoadas completas

preparadas para serem saboreadas

às quartas e sábados ou somente

quando os senhores sentem vontade

As mulheres da minha raça

não são latas de malzibier fabricadas

para fortalecerem impotentes virilidades

aprimorando-se o hipnótico brilho do rótulo

porém degenerando a essência do conteúdo

As mulheres da minha raça

não são animais de carga

simples bestas selvagens

que após serem marcadas

registradas e enjauladas

são transformadas em cadelas no cio

Saibam senhores

as mulheres da minha raça

são capacitadas e tudo fazem

com inteligente primor

São humanas

têm sentimentos

de alegria

de liberdade

ódio e dor

pois também sentem amor

Sendo assim, senhores

as mulheres da minha raça

não devem ser discriminadas

devido a pigmentação da sua cor

Cada um delas possui

a sua natural essência humana

e todas devem ser respeitadas

não importa a medida

a intensidade

o brilho do seu valor

São Paulo, 1981

Oubí Inaê Kibuko

Publicado em CANTO À NEGRA MULHER AMADA, poemas, Edição do Autor, São Paulo, 1986.

OUBÍ INAÊ KIBUKO
Enviado por OUBÍ INAÊ KIBUKO em 09/02/2008
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