José

Pobre José, que fazer, com teus sonhos desfeitos,

Com tua esperança malograda,

Com tua fé abalada,

Com tua paciência esgotada?

Meu desesperançado amigo José,

O orgulho ferido, o grito contido,

O coração partido, triste, desiludido.

Chegaste ao limite, meu querido José,

És um caldeirão fervilhante:

Pequenas decepções acumuladas,

Fúria incandescente,

Vulcânico rancor, rubros desafetos.

Vais explodir, transbordar,

Esfacelar-se em vendavais,

Em temporais, em ondas gigantescas,

Rebentando contra paredões de pedra.

Solta teu grito preso na garganta,

Ignoto José, que, talvez,

Para além das montanhas azuladas,

Os deuses possam ouvir o eco distante

De teu canto de revoltas pelos ares e

Se compadeçam de ti, meu grande José.

Cala-te, meu menino José,

Que a noite se insinua,

E a hora é de recolhimento.

Cala-te, que tuas palavras são fio de navalha,

Punhal de lâmina reluzente,

Lança envenenada de bravo guerreiro.

Acalma-te, meu leãozinho José,

Sossega teu coração,

Que há uma luz, há uma esperança em meio ao caos.

Não te percas pelas vielas da cidade,

Meu inquieto José,

Não te entorpeças com ópio,

Não te embriagues com absinto,

Não assassine o menino que há em ti,

Meu pequenino José.

Oliveira