UM VENDEDOR DE FLORES

Do alto do campanário,

Do bronze o som se ouvia,

Anunciando aos fiéis,

Como líricos menestréis,

Um saudoso fim do dia.

O povo se aglomerava,

Um coral que entoava,

O canto da “Ave Maria”.

Assim começa a noite,

Na cidade pequenina,

Sempre muito harmoniosa,

De beleza tão ditosa,

Que nossa mente destina

E nos trazem um repensar,

As saudades hão de ficar

Nos gracejos das meninas.

Hoje a saudade eu sinto

Dessa vagarosa vida,

Passando vai aos poucos,

Não se permite aos loucos,

Cruzarem essa avenida.

Os costumes preservados,

Dos varandões nos sobrados,

Acenam-se na despedida.

E nas tardes de domingo,

No salão todos ficavam,

Falava-se em Curupi,

Fanfarrices do Saci,

Quase sempre se falavam.

De mãe d’água e caipora

E figura de senhora,

Sobre os lajedos andavam.

Eram assim as estórias,

Que nossos pais enfeitavam,

Atentos, todos ouviam,

Sem coragem estremeciam,

Quando as noites chegavam.

P’ro colo da mãe corria,

Enquanto outro sorria,

Assim os dias findavam.

O pai sorrindo contava,

O que os filhos aprendiam,

Seja no campo ou cidades,

Todos em cumplicidades,

Com perguntas invadiam.

O velho pai triunfante,

Não se fazia arrogante

E felizes assim viviam.

Então a vida passava,

Cheia de graça e amores,

Nossos pais nos alertavam,

As nossas dúvidas tiravam,

Afastando os temores.

Hoje eu afirmo com alma,

Um pai que ensina e acalma

É um vendedor de flores.

São Paulo, 26/01/2008.

Feitosa dos Santos

Um poema dedicado ao interior deste nosso grande pais chamado Brasil e a todos os pais que ensinam e acalmam seus filhos desde pequeninos, até a dia em que eles ganham asas e voam para seus vôos solos.