ALGIBEIRA
É certo que
nas noites tempestuosas
os olhos procuram, sôfregos,
as virações.
Teimam em não se
exilarem nas desistências,
a brisa — pensam —
há de pairar escondida
entre as taciturnas nuvens,
como um sorriso guardado
na despedida das lágrimas.
A esperança tem dessas coisas,
não se apega a tempestades,
somente a tempestividades,
na prerrogativa
da sua imortalidade.
Quando menos se espera
raios e trovões se acorvadam
diante dela,
retiram-se à moda dos franceses,
"jusqu'à un nouveau jour" ¹,
e o céu ganha contornos azulejados.
Que bom que o Criador
criou a algibeira no firmamento,
não existe fardo tão pesado,
nem nuvem tão carregada
que não sucumba
a uns cobres
ou a uns raios de sol,
no fundo do bolso interior,
onde depositamos o sentido
de toda resiliência. //
(nota 1: "Até outro dia!" )