ARMISTÍCIO

Soam os sinos

da liturgia,

buliçosas palavras

alcançam a alma inquieta.

Houve um tempo do silêncio,

depois veio a badalação,

o espírito quedou-se em frenesi.

Bulícios,

inventariaram meus demônios,

despossuí-me da paz,

despi-me do manto

e de tudo mais que agasalhava-me

nas noites frias.

Tudo virou sombra,

assombros,

escombros

do que um dia fui.

Na badalação me perdi,

no badalar tento me encontrar.

A batalha continua

nos cotidianos dualismos

do corpo e da alma,

Às vezes penso em jejuar,

outras, em alimentar

aquele lobo...

Enquanto a fome ou o fastio

não consomem

a carne e o seu pecado,

empresto ouvidos

à esperança,

à espera aflita do sino

em seu campanário.

Não sei quem vencerá a guerra,

mas sei

que entre mortos e renascidos,

na dúvida que o prazer imputa,

no fundo eu só quero um pouco de armistício.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 31/03/2025
Código do texto: T8298999
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