O Último Ato
Acabou. E o eco dessa palavra fria
É lâmina que corta sem piedade.
O mundo não parou — que ironia —
Mas meu peito jaz sem claridade.
Fui verso, fui chama, fui loucura,
Cravei estrelas em papel trêmulo e vão.
Mas o amor, ah, esse amor — tão ternura —
Fez-se pó na palma da minha mão.
E não há glória em morrer por um beijo
Que nunca virá, em um céu sem luar.
Mas lutei, lutei com todo o desejo,
Como Cyrano, por não deixar de amar.
Agora restam as sombras do que fui,
A lembrança dos sonhos, dos “quem sabe”.
E a maior dor, mais feroz do que o ruir,
É saber — sim, saber — que nada cabe.
Acabou. E eu, louco, ainda escrevo,
Pois mesmo na derrota, o que me salva
É amar-te, mesmo que em relevo
De dor gravada em minha alma calva.