Sangue e poesia

É dito que o dom divino,

Aquele inatingível, inexplicável, incompreensível,

Reserva para cada um o tamanho da sina,

E afere o peso do fardo.

É pesado o fardo e é difícil a sina do poeta.

Fui feito assim, poeta.

Com raízes em terra seca,

E coração de sal, fino e quebradiço.

Tal como pássaro de arribação,

Tinha os olhos voltados para além da serra mais alta.

Chegada à hora, era tempo de voar para longe.

O dom divino então cavou a terra

E arrancou as raízes (sua mãos ficaram sujas).

O vento soprou e empurrou a arribação (são as estações da vida).

Foi então que o peito sangrou

Em um vermelho vivo de saudade.

O mesmo dom divino há de me reservar

A consciência do compasso do tempo.

Sem a angústia pelo tempo a viver,

Nem o saudosismo paralisante de um tempo morto.

Pois a arribação volta sempre ao seu lugar.

Até lá o peito vai sangrando.

Uma hemorragia de verso e dor,

Tingindo de saudade o papel alvo e leviano, que aceita tudo.

Coagulando nele a poesia adormecida no coração

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Domm Paulo
Enviado por Domm Paulo em 22/01/2008
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