LUTO
Luto
Pela minha vida.
Porém, morro todo dia
E reluto — relutante —
Em renascer das cinzas
Das manhãs chuvosas
Ou ressurgir diamante
Do carvão das rosas.
Porém, as enchentes
Desses dias morrentes
Nada preenchem de fato
Além dos olhos aguados
Por corações magoados
Batendo arritmicamente
Dentro de cada peito
Sentindo de outro jeito
Do que o alheio sente
(Nem assim tão diferente).
Todos feitos do mesmo pó:
Um, estranho, sentindo-se só
Outros ocos, indiferentes
Todos loucos, poucos contentes
(Maior erro que subsiste
Na mente humana, exausta e triste)
Cuja a vida, de um canto escuro
Projetada para o futuro
Pouco vivida, muito menos vívida,
Um rosto fosco, de aparência lívida,
Que definha no mesmo corpo
Na linha tênue entre o vivo e o morto...
10/10/2023