INAUDIVISÍVEL

Se o mundo lesse

o silêncio desses

teus olhos aguados

o que, ambos magoados,

diriam?

O que transcreveria,

de bom grado

ou à revelia,

esse olhar petrificado?

Talvez (se vissem

de dentro o que dizem

ver de fora)

a visão de agora

seria história

de terror

e não um ato de amor

de uma peça tragicômica.

Talvez a Ode Astronômica

nascesse nessas poças

escuras-cristalinas

como nascem as meninas

dos olhos e, então moças

crescidas, noite adentro,

buscam, úmidas, o alento

de si mesmas, gota a gota.

E, do fundo de uma grota,

despertasse, finalmente,

como urso que hibernava

e, de súbito, a Palavra

rompesse, tão potente

que vibrasse entre as cordas

vocais com forte brado

que a gente do outro lado

dos teus olhos te ouviria,

como quem de um sono acorda

para ouvir quem nem havia...

12/03/2025

F H Pupo
Enviado por F H Pupo em 13/03/2025
Código do texto: T8284330
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