Rascunho
Ando pela vida, clandestino,
Parecido comigo:
Uma forma nebulosa,
Misto de púrpura das tardes outonais e
O escalarte que tinge a aurora primaveril.
Metamorfoseio-me:
Desconheço-me em quem sou,
Quem fui é um sonho que alguém sonhou por mim
Numa noite insone e povoada de tormentos íntimos.
Perco-me todos os dias pela estrada da vida e
Transito pelas ruas vestido de alheamento,
Estrangeiro, diferente de mim:
Um rascunho,
Um texto por revisar,
Uma charada por decifrar.
Reescrevo-me:
Tento desvendar enigmas, paradoxos,
Ambigüidades, antagonismos, arestas,
Mas extravio-me nos desvão de ser.
Sigo pelo atalho,
Esfacelo-me, fragmento-me em vários eus. . .
Sou outro,
Vestido de ternuras antigas,
Descrente do amor.
Passo a limpo minha história e
Deparo-me com o caos:
Escombros de um império ignoto,
Meus navios de guerra naufragrados,
Desassossego, medo, solidão.
Oliveira