Ó PINDORAMA!

Ó PINDORAMA!

 

Já não creio em chão de fábrica,

Pois admiro o modo artesão,

Mesmo vindo na última cáfila,

De um Saara ou do meu sertão.

 

Mas hoje é tudo uma invenção,

E o ônibus se foi com o trem,

Pois só temos metrô na estação,

E a capital pode ser em Belém.

 

Na indústria nós temos de tudo,

E não importa eu ser infeliz,

Se a felicidade é onde me iludo,

Mas isso ninguém nunca diz.

 

Pensam que ouro mantém o navio,

Mas o ouro afunda como a joia,

E a madeira, se não tem pavio,

Vai navegar no mar da história.

 

Eu soube das naus e de África,

E também dos mistérios do mar,

Mas também vi leões e girafa,

Porque fui dono de um lugar.

 

Mas um dia forjaram a saudade,

E alguém sequestrou meu destino,

Fez de mim servo sem liberdade,

Hoje velho e desde menino.

 

E aqui sofremos, ó Pindorama!

Pretos, índios, pobres e gente,

Pois o que sobrou da derrama,

É o chicote no lombo indigente.