Meu menino
Meu menino tem os olhos perscrutadores,
Jeito moleque, brincalhão, espontâneo;
Sorriso largo, sorriso de mar se esparramando colcha de renda
em praias que nunca verei.
Meu menino gosta de correr pelos vales,
De soltar pipa (tão colorida, frágil em sua leveza),
De brincar com seu cãozinho Pluft.
Meu menino às vezes brinca com meus sonhos:
Apanha-os e sonha com eles castelos de areia à beira de
mares distantes;
Finge ser um pirata, um saqueador dos mares,
Inventa um cais, inventa um navio e viaja no
universo da fantasia. . .
Meu menino às vezes se entristece:
Fica pensativo, senta-se e se queda com os olhos imersos
na imensidão do vale,
Passa horas assim contemplativo, cismado, ruminando
sabe Deus que pensamentos. . .
Ah, meu menino, logo, logo perderás a inocência,
Descobrirás que a vida é uma sucessão de dias desiguais,
Que o homem é um ser que usa máscara,
Que muitos constroem impérios à custa da desgraça alheia,
Que a mentira põe brumas no horizonte,
Que não há acalanto para as dores,
Que não há ungüento para as feridas,
Que somente o tempo tem o poder de amortecer,
Apagar as mágoas, os remorsos, os desenganos, os dissabores. . .
José Oliveira