O vento
O vento,
O vento passa e me diz . . .
. . . que seu destino é estar em incessante movimento;
. . . que carrega em sua essência o poder de tudo transformar;
. . . que sopra nos quatro cantos do mundo, trazendo e levando
as estações, os anos, os meses, os dias, as horas.
O vento passa e me diz . . .
. . . que a infância se perdeu na poeira do tempo;
. . . que o tempo caducou no desenrolar do novelo nas mãos
da donzela sentada junto à janela da vida;
. . . que os sonhos são feitos de substância etérea, são fumo
que se esfiapa na imensidão marinha;
. . . que a juventude é fugaz como as dunas dos desertos,
metamorfoseiam-se sem que se perceba.
O vento passa e me diz . . .
. . .que o amor é frágil como taça de cristal que se espatifa
em caquinhos luminosos no chão de nossa decepção;
. . . que a saudade é uma rosa murcha, guardada num velho
livro de poesias, esquecido, empoeirado, no sótão de nossa emoção.
O vento passa e me diz . . .
. . . que a vida é uma vela acesa no meio de um imenso
oceano de tormentas;
. . . que as paixões são incêndios que devoram, que corroem,
que abrem feridas difíceis de cicatrizar;
. . . que o tédio é o mar em plena calmaria, esquecido de si.
O vento passa e me diz . . .
. . . que um coração-partido é triste como os escombros
de um castelo medieval;
. . . que o ódio é uma tempestade que se forma em alto-mar
e ganha força à proporção que se aproxima do litoral;
. . . que o desafeto impulsiona a força avassaladora
que move os ciclones.
O vento passa e me diz . . .
. . . . que levanta as ondas na imensidão dos oceanos para que
elas cheguem à praia e embalem nossa alma com cantigas de ninar;
. . . que somos folhas-rubras, no outono da vida,
que rolamos atônitas, ao léu, ignorantes de nosso porto-seguro;
. . . que tudo passa com a pressa de uma tempestade ou
a suavidade da brisa que embala as folhas das palmeiras.
José Oliveira