Ébrio
Embriago-me com absinto
Para esquecer-me do gosto amargo dos desenganos,
Para apagar a chama ardente dessa angústia inominável,
Para fingir indiferença aos dissabores
Dessa vida opressiva e sufocante.
Dopo-me com ópio
Para viajar nas asas do sonho,
Para sentir o sabor da liberdade,
Para transgredir, extrapolar
(Sem sentir a mínima culpa),
Para usufruir a sensação de paz
Que perdi em algum ponto do caminho,
Para deixar-me levar etéreo
Por alamedas de perder-me
Para encontrar-me em labirintos
De ser . . . De ser qualquer coisa:
Uma paisagem outonal,
Uma embarcação encalhada,
Uma rosa escarlate entre espinhos,
Um charco, visto de longe, ao entardecer . . .
José Oliveira