TUDO AGORA É SÓ

TUDO AGORA É SÓ

 

Viajamos agora só de astronave,

Porque tudo é veloz ou urgente,

E não há mais noção se é grave,

Onde ninguém mais é inocente.

 

Somos como aves de rapina,

Porque tudo é caça e prêmio,

Com os coelhos em cada esquina,

Ou um rato de achando boêmio.

 

Quem ficar distraído sucumbe,

Pois a flecha não volta ao arco,

Se o disparo não é vagalume,

Que acende e apaga no palco.

 

Tudo agora é volátil e breve,

Pois o prazer está no virtual,

Onde a tristeza se acha alegre,

E ninguém se percebe animal.

 

No nosso ideário somos lobos,

Ou águias, leões, até grifos,

Mas também o dragão ou boto,

Faltando a fênix e outros mitos.

 

São novos tempos de tatuagens,

Com outras naves piratas no mar,

E por isso ressoam os ultrajes,

Que, a rigor, são para sonhar.

 

Tudo bem, mas eu vejo delírios,

Pois ninguém mais valora a vida,

E as lágrimas estão sob os cílios,

Em cada ringue e cada briga.

 

Só por isso, está findo o verbo,

E os diálogos estão nos jornais,

Pois ninguém tem noção do eterno,

E a humanidade não lê os sinais.