FORA DO CORPO

FORA DO CORPO

 

Meu espírito está fora do corpo,

Donde eu olho todos os lugares,

Vou em busca de ter um conforto,

Mas, sem asas, sou onda nos mares.

 

Em cada bicho ou cada elemento,

Eu me acho buscando os sentidos,

Pois, como fogo, ardo no vento,

E, como água, sou poço e pedidos.

 

Já me vi nas estepes da Rússia,

E percorri as muralhas da China,

Suspirei com alfazemas etruscas,

Vendo as lobas por cada colina.

 

Fui criança qual Moisés no cesto,

Ou José sendo escravo de irmãos,

Mas eu vi cada jegue e cabresto,

Nas andanças em que fui Lampião.

 

Tive tempo para ler cada mente,

E previ meu dilúvio no Eufrates,

Mas eu disse pra toda essa gente,

As estórias de um velho mascate.

 

Enganei cada servo indigente,

Com fábulas de um casal divino,

Mas eu fui também filho doente,

Que matou César, sendo sabino.

 

Vi o povo negro ser chicoteado,

Mesmo gerando as vidas no Nilo,

Mas andei pelo Saara escoltado,

Pois fui carne vendida a quilo.

 

Hoje eu sei o que sempre soube,

Sendo o tempo nos corpos vivos,

Como a fome ou sede que houve,

Mesmo sabendo não haver motivo.

 

Eu plantei e colhi cada safra,

Fiz o vinho melhor que beberas,

Fui bilhete ao mar na garrafa,

Naveguei com Enéias e estrelas.