ALÉM DE VENEZA

ALÉM DE VENEZA

 

Cada praça já está nomeada,

E não cabe mudar seus nomes,

Pois o nome é a sua jornada,

Como Ruy Barbosa foi homem.

 

Hoje eu vejo mudarem as regras,

Para agradar quem está no poder,

Quando mudam praças sem réguas,

Mas não me engana o que vai ser.

 

Com certeza vão assorear os rios,

Porque selam as margens e córregos,

Selam as praças com cimento frio,

E só vejo os jardins que não rego.

 

Tudo agora são flores de plástico,

E suas sombras querem com palmas,

Já não vendo nem gelo no ártico,

Mas me dizem que só tenho traumas.

 

E lhes declaro meus quinze mil anos,

Que não foram cercados de muralhas,

Foi andando e plantando os enganos,

Que tive enquanto haviam batalhas.

 

E cada confronto diante do espelho,

Eu me vi querendo ser o que não sou,

Se um dia eu não tenho os cabelos,

E nem minha barba de monge sobrou.

 

Eu me lembro do pulpito na praça,

Onde um dia falei nos altares,

Mas, eu sei dos ardis como traças,

Que matam os poetas e pares.

 

E me vi falando apenas ao vento,

Sem ter as estantes de Alexandria,

Pois o verbo se foi, sem ao menos,

Criar limo nos crânios sem guias.

 

Mas, agora os prefeitos são doges,

Magistrados supremos além de Veneza,

E nos ditam verdades de Herodes,

Porque sou São João, com certeza.