CRER NOS EXIGE DECÊNCIA

CRER NOS EXIGE DECÊNCIA

 

Quem morou no campo já sabe,

Que cada safra salva a vida,

Mesmo sem ter pedras de jade,

Ou o ouro de algum sefardita.

 

Por isso é que planto e adubo,

Mas também rego cada canteiro,

Se o orvalho que dá no escuro,

Não basta nem pra um coiteiro.

 

Quem já andou pela caatinga,

E viu o espinheiro e o ingá,

Não viu chuva encher moringa,

Mas sabe o que é um mangangá.

 

Quando vem a chuva no sertão,

E o maracujá já está ramando,

Sua flor é primavera e verão,

Quando o mangangá vem voando.

 

E a chuva, mesmo que temporã,

Tem o dom de florar Juazeiro,

Ou quando o côco der a maçã,

Vou lembrar do amor primeiro.

 

Mas um dia farei uma cisterna,

E também vou cobrir o telhado,

Pois a bica quer chuva na terra,

Mas também quer o grão semeado.

 

Penso sobre o que ainda espero,

Porque hoje há guerras e dor,

Quando ressuscitam a cérbero,

E não enxergam faltar o amor.

 

Eu queria entender as nações,

Porque sei serem elas malditas,

Pois os homens querem emoções,

Mas destroem essa terra bendita.

 

Todos querem ser donos do mundo,

Onde o mundo é pertença de Deus,

Que é mais que mistério profundo,

E, pelo jeito, nós somos ateus.

 

Porque crer nos exige decência,

E não basta só crer que morremos,

Pois isso é fato e também ciência,

Mas temos de amar, se convivemos.