SOMENTE UMA ESPÉCIE

SOMENTE UMA ESPÉCIE

 

Nosso lar não depende de nós,

Pois a terra é berço de todos,

E se formos só calos ou nós,

Ela vai nos calar nos esgotos.

 

Nunca pense que domina a terra,

Porque ela é a razão de vivermos,

E não o desconstruir das guerras,

Pois a terra é que dita os termos.

 

Se pensarmos querer ser eternos,

É preciso dar à terra uma razão,

Mas ela é mais que os cadernos,

Pois é linha, com verbo e versão.

 

No universo pode haver outra Terra,

Mas nunca iremos encontrá-la,

Pois o que vemos é como a cisterna,

Que se limita à água que exala.

 

E a cisterna não sabe ir ao mar,

Como nunca iremos morar em Urano,

Pois só temos o direito de sonhar,

Nesse lar que nos guarda humanos.

 

Somos a memória do mundo sentida,

Como um retrato ou como evolução,

Mas se esquecemos de cada ferida,

Essa viagem não terá mais razão.

 

Porque somos somente uma espécie,

E não o que falam e se arvoram,

Pois não há nada além da messe,

Que os dias impõem aos que oram.

 

Há quem diga para só agradecer,

Pois aqui nada vem como débito,

E por isso não podemos esquecer,

Que viver é um gozo ou crédito.

 

É por isso que somos guardiões,

Ao tempo em que temos os frutos,

Com a cortesia de mel e de pães,

Pra viver sem vender o futuro.