ACORDO E VEJO

ACORDO E VEJO

 

Tem dias que acordo com chuva,

Bem diante do vulcão que aflora,

Pois, quando olhei, não era chuva,

Mas Hefestos chorando lá fora!

 

Noutros dias acordo de um sonho,

Que não lembro a linha que liga,

Pois misturam a água do banho,

Que não vi escorrer numa bica.

 

Vejo quartos e salas com gente,

Mas as reuniões nada disseram,

Pois as cartas de um penitente,

Não perdoam tolos que erram.

 

Vejo os dias surgirem sem regras,

E os fantasmas nos causam torpor,

Pois os loucos agora dão festas,

Mas, com ouvidos de mercador.

 

E alguns são ouvidos moucos,

Pois não ouvem e nem lêem,

E digitam verdades de loucos,

Ao querer o poder do além.

 

Mas, se acordo, a razão me chama,

E, estando vivo, a terra me cobra,

Pois que não sou a luz da chama,

Tão somente o carvão ou a sobra.

 

Precisamos do mundo e do outro,

Mesmo que não haja comunhão,

Pois sozinhos nós somos esgoto,

O qual não gera o vinho e o pão.

 

E, na mesa em que nos reunimos,

Já não cabe termos cabeceiras,

Pois ninguém se vê como menino,

E a rainha só serve às abelhas.

 

Talvez seja melhor a anarquia,

Pois a democracia é para tolo,

Se ninguém socializa a alegria,

Que dirá a cereja de um bolo.

 

A solução é findar a ganância,

E vivermos a paz de um cometa,

Pois a vida não é só a infância,

Mas andar até com a muleta.