ANTES E HOJE

ANTES E HOJE

 

Quem andou pelo mundo navegou,

Pois o mundo são ilhas ao léu,

E são juntas no tempo que estou,

Com rodas e remos, asas e céu.

 

Houve um longo tempo isolado,

Onde ninguém sabia quase nada,

Se após as colinas era pecado,

Mas a fome requer cada jornada.

 

O medo era regra para viver,

Pois não se previa o amanhã,

Se ia ter sol ou ia chover,

E nem sabiam de éden e maçã.

 

A nossa dieta era restrita,

Porque nossa vida era brutal,

E sem o fogo ou água de bica,

Tudo era deserto ou lamaçal.

 

Ninguém se tornava um velho,

Pois a morte era tão iminente,

E Narciso não tinha espelho,

Vivendo sem ter pretendente.

 

Quando o lugar era no agreste,

Sentíamos até dores de dentes,

Mas se a vida não dava consolo,

É porque nos botavam correntes.

 

Mas hoje o Brasil é o paraiso,

Sem vulcão, terremoto ou neve,

E os corpos, sem pelo e ciso,

Se fartam do que não se deve.

 

Aqui tem boa fauna e flora,

Chove bem e há vários climas,

Temos coco, banana e amora,

E até mesmo cotia e colinas.

 

Tudo é com fartura e bondade,

Só nos falta é sabermos usar,

Com governos de paz e saudade,

E jogando os tiranos ao mar.

 

Essa vida nos pede tolerância,

Porque Deus não fez cada bíblia,

Mas nos deu direito a infância,

E, pra velhice, nos deu família.

 

Por isso, a regra é liberdade,

Sem servos, pois somos iguais,

Sem donos e falando a verdade,

Pois a felicidade é bem mais.