NO MEDO DA MORTE

NO MEDO DA MORTE

 

Se vou me deitar pelo sagrado,

Devo respeitar cada chão de fé,

E se for preciso e for honrado,

Irei com adicissa e muito Axé.

 

Bem sei que o mundo é multiétnico,

Ou se molda e a cultura é diversa,

Mas o exemplo de Babel é eclético,

Quando temos cor e línguas à bessa.

 

Quem nasceu pelo gelo nórdico,

Ou sobe acima e vem de esquimó,

Descobre que há templos góticos,

Mas há pirâmides, desertos e pó.

 

E a fé é forjada no medo da morte,

Ou busca o segredo da casca de noz,

Pois ser uma cotia é sina ou sorte,

Mas a castanheira a quer, não a nós.

 

Nós todos devemos ter um compromisso,

Que é cuidar da casa enquanto vivermos,

Por isso, não pense que fé é feitiço,

Mas saiba louvar a Deus e seus termos.

 

Deus não tem preferências, senão ser,

E não torce por time ou tem esporte,

Mas faz o equilíbrio até perecer,

Pois seu paraíso não é um resort.

 

Deus cria e muda, como rio eterno,

Que chega à montanha e não enfrenta,

Mas sim a contorna, até no inverno,

Enquanto a remove numa forma lenta.

 

O vento e o magma andam paralelos,

E não discernem humanos de bichos,

Ou mesmo os ipês rosas e amarelos,

Podem virar carvão, por onde piso.

 

As rochas que vejo em cada chapada,

Rasgadas por rios da era jurássica,

Nos servem de casa pela madrugada,

Ou me lembram o quilombo de Inácia.

 

Por isso o escravo pede alforria,

Ao ver que o tempo nunca tem pena,

E não dá outra chance pra alegria,

Pois o filme repete só no cinema.