O QUE FLAMEJA O SANGUE

O QUE FLAMEJA O SANGUE

 

Até certo dia o homem só andava,

E não tinha essa pressa em viver,

Pois até quando o Sol se deitava,

Só queria ver outro dia nascer.

 

E assim se passaram as eras,

Onde calor ou gelo revezavam,

E surgiram, além das quimeras,

Os monstros que assustavam.

 

Quando nós criamos os dragões,

Foi por não viver no jurássico,

E o resto são somente ilusões,

Como fadas de verniz clássico.

 

Esse tempo de hoje é dos gatos,

Ou de cães que herdamos de lobos,

Como os dinos são hoje lagartos,

E quem quiser bacalhau é engodo.

 

Quem devemos salvar são baleias,

Pois Deus as criou para o mundo,

Mas o Japão as quer numa ceia,

Sem olhar que o mar tá imundo.

 

Me assusta ver um povo tão velho,

Errar quando não querem mais luto,

E se a vida ancestral foi mistério,

Na vida moderna nada fica oculto.

 

Todos querem olhar sem as traves,

E poder desfrutar do progresso,

Pra vencer o que seja mais grave,

Como grave é um poeta sem verso.

 

Não dá mais pra pescar com rede,

Quando podemos criar em um tanque,

E assim, quando o atol tiver sede,

Eu lhes direi que preservo mangue.

 

E a minha teima flameja o sangue,

Pois defendo a vida com equilíbrio,

Sem ser preciso errar e ter gangue,

Mas construir meu palácio elísio.