Caminheiro

(Antônio Herrero Portilho)

Eu me chamo caminho, as vezes sou longo, cansativo, muitos que me seguem, sem paciência se desviam, desiste de mim, logo adiante se tomba no leito dessa via simples, mas acolhedora, cai por terra como um soldado enfraquecido, desanimado que no primeiro obstáculo se rende esmorecido.

 

Eu sou o caminho, se você vir comigo eu te levarei até onde você precisa chegar, não procure conforto de largas margens, nem calor para seus pés, as calosidades e ferimentos, quando insistir no momento, terminará as maledicências, estingue as dores da carne.

Um pé calcou, firmou equilíbrio, marcou o solo com uma pegada, direção sentido de ida, primeiro o calcâneo depois os dedos pequenos na planta da frente junto o dedão, sentido de ida, visando um destino, marcando o chão.

Estrada vazia distante horizonte, reta traçada, chegada prevista, pisando em falso, buracos na via, o sopro do vento, de noite e de dia, movimento lento que tardia, Caminha Francisco de pernas cansadas pisando descalços sofrendo na sola, impacto no chão.

Um homem sem nada, descamisado, de cabeça ao sol, deschapelado cabelos aos ventos em despenteio, desprovido de tudo, sem origens, de onde veio, só imprevisto de memória fraca, lembranças, exposto ao léu, tão esquisito, lhes chamam pra cristo o tal infiel.

 

Antonio Portilho antherport
Enviado por Antonio Portilho antherport em 26/07/2024
Reeditado em 15/11/2024
Código do texto: T8115393
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