LADEIRA E FEIRA

LADEIRA E FEIRA

 

Estou descendo a ladeira,

E já bem perto de um cais,

Com meu fardão de rameira,

Pois assim fomos policiais.

 

Meu esquife me aguarda no barco,

Pra onde irei, ao vento, à tarde,

Como cortejo em Paris, sob o arco,

E fogo na pira, um corpo que arde.

 

Minhas dragonas jogaram no lixo,

E fui general de minhas estrelas,

Pois um caçador me viu como bicho,

E duas argolas em minhas orelhas.

 

Fui fácil pro limbo, barriga aberta,

Sacando as balas, costuras e sangue,

Pra que um mouro e a hidra de lerna,

Retirem do mar meu gosto de mangue.

 

Eu sei que isto vai me despedindo,

Mas também sei que eu vou voltar,

Só não sei se serei de novo menino,

Ou apenas mendigo à beira do mar.

 

Só quero lhe dizer, companheira,

Que o mel na quartinha resguardo,

E não esqueça que um dia na feira,

Trouxemos frutos, poema e bagaço.