SOU APENAS O QUE NÃO FUI
SOU APENAS O QUE NÃO FUI
Quando o dia finda à noite,
É o normal que eu exacerbo,
Então o vento vem de açoite,
Porque é boca do inverno.
Eu sempre busco o sol poente,
À tardezinha em uma varanda,
Mesmo com o frio tão de repente,
Pois sei que a noite é longa.
Sobrevivo em meus pesadelos,
Na depressão que ainda ronda,
Desde meus dias de desesperos,
Se a conta fecha sem comanda.
Somos tão frágeis num deserto,
E a areia quente se torna fria,
Como os caminhos tão incertos,
Onde a centopéia nem corria.
Não lembro de ver as pegadas,
Cobertas pelo vento agreste,
E em toda areia da jornada,
Só quem viveu, viu o leste.
O mundo gira e cria horários,
Pois gira enquanto se desloca,
E busca, com meus legionários,
Vencer batalhas sem uma roca.
Os contos são como as fábulas,
E nos diz coisas sobre o tempo,
Mesmo se o tempo for às favas,
Ou se distrai enquanto invento.
Eu sou a estática do movimento,
Pois viajo no caos sem perceber,
E creio que nasce a cada momento,
O sol e a lua sem ter um porquê.
Em cada passado que pude existir,
Eu só aprendi o que eles queriam,
Pois sempre o clero quis seduzir,
Meu modo de ver que se revelaria.
Mas hoje sou apenas o que não fui,
Se tudo que fiz foi criar dilemas,
E ao me mostrar como rosca que lui,
Fui morto na lida com os poemas.