HOUVE UM TEMPO

HOUVE UM TEMPO

 

Houve um tempo que vaca voava,

E dava o leite às aves do céu,

Enquanto os botos só nadavam,

Em seus mergulhos lá em Bornéu.

 

Me disseram que haviam dragões,

E os cisnes eram como a fênix,

Pois foi um tempo de camaleões,

Numa arte que não é apêndice.

 

Tudo havia em total equilíbrio,

Sem ter homens e seus negócios,

Só temendo cometas e anfíbios,

Pois um cai e outro tem bócio.

 

Mas um dia mataram os mamutes,

Pois se foram velhos mastodontes,

E extinguiram também os abutres,

Pois não tinham água nas fontes.

 

Foi depois de acharem petróleo,

Que tudo começou a desmoronar,

Seja o sonho que tanto imploro,

Ou verdades que nem posso falar.

 

Mas fizeram mau uso de tudo,

E criaram a pólvora e o ódio,

Como as armas que geram luto,

Pois a morte rompe nó górdio.

 

E deixamos de lado Aristóteles,

Ou envenenamos também Cleópatra,

Com a mágica de um Mefistófeles,

Ou poções dos bruxos de cátedra.

 

Foi assim que cheguei nesses dias,

Depois de ter vivido sem a sorte,

Mas não sei quais são as melodias,

Que irão cantar na minha morte.

 

Sei que poderei ter carpideiras,

E o jejum dos que seguiram comigo,

Pois eu disse nas horas primeiras,

Que meu galgo quer outro amigo.