A SELVA NUM SONHO
A SELVA NUM SONHO
A selva me chama e me quer,
Pois nela estou mais seguro,
E o meu conflito, quando vier,
Será por fome e sede no escuro.
Quando o sol chega nas copas,
Cada harpia se joga num vôo,
Como tatus se movem nas locas,
E a seriema se mostra de novo.
A paz que hoje reclamo tá longe,
Pois há fascistas querendo luta,
E eu, que choro, não sei a fonte,
Que cesse o calor dessa disputa.
Se foi num sonho, era uma poetisa,
Que declamava versos na natureza,
E eu pensava numa ninfa ou papisa,
Que o templo grego tem pra defesa.
Mas, nesse sonho, havia uma deusa,
E eu lembrei de Oxum e Afrodite,
No mel que transborda em alteza,
Mas quer o que seu colo permite.
Seria na beira mar ou nas matas,
O meu encontro com o sol nascente,
Ao ver baleias e siris ou gatas,
Como a jaguatirica tão sorridente.
E, após os primeiros raios de sol,
Vou celebrar novas eras pra Terra,
Pois o olho de sagitário é bemol,
No canto em que meu poema encerra.
E todas as nebulosas que existem,
Por entre portais do imenso caos,
Nos tornam espécimes que insistem,
Em serem mais que cartas de paus.
Mas não somos como os baralhos,
Mesmo que vivamos com mandingas,
Porque temos só tempo de acasos,
Mesmo quando nascemos de rimas.