O coração da terra

Noite escura, penumbra

Feiticeira a me guiar no bréu

Adentro um espaço subterrâneo

Caverna arenosa, rachaduras cintilantes

Ao centro do recinto, me sinto

Confortável, segura, pertencente

Acostumada com o escuro, respiro fundo

Abro os braços, sorrio, fecho os olhos

Não é necessário buscar, posso relaxar

Me deito, o chão me recebe frio, duro

Espalho meu corpo, tateio as rochas

Abro cada um dos dedos das mãos

Me dispo, nua, me lanço em movimentos

Deixo meu corpo se expressar

Fico em posição fetal, me toco

De repente escorre sobre mim água quente

Direto da nascente, sinto meu ventre ativar

Conecto-me profundamente

Memórias intrauterinas a resgatar

Recebo as mensagens,

Lágrimas a derramar

Oculto a se mostrar, sujeira a limpar

Apego a libertar

Águas a se misturar, a renovar

Me curo, volto a lembrar

Ser inteira de novo,

Capaz de me cuidar

Com a delicadeza e atenção minuciosa

Toque sutil, feito pétala de rosa

Orvalho na flor a pairar

A chave que procurava, acabo de encontrar

Não separar minhas partes, integrar

Ser tudo que sou, não me rebaixar

Parar de tentar me encaixar, me moldar

Deixar transbordar sem me preocupar

Com o que vão pensar ou se vão gostar

Sou meu lar, me faço confortável para morar.

Rafaela Andrade
Enviado por Rafaela Andrade em 17/06/2024
Reeditado em 17/06/2024
Código do texto: T8087421
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