O coração da terra
Noite escura, penumbra
Feiticeira a me guiar no bréu
Adentro um espaço subterrâneo
Caverna arenosa, rachaduras cintilantes
Ao centro do recinto, me sinto
Confortável, segura, pertencente
Acostumada com o escuro, respiro fundo
Abro os braços, sorrio, fecho os olhos
Não é necessário buscar, posso relaxar
Me deito, o chão me recebe frio, duro
Espalho meu corpo, tateio as rochas
Abro cada um dos dedos das mãos
Me dispo, nua, me lanço em movimentos
Deixo meu corpo se expressar
Fico em posição fetal, me toco
De repente escorre sobre mim água quente
Direto da nascente, sinto meu ventre ativar
Conecto-me profundamente
Memórias intrauterinas a resgatar
Recebo as mensagens,
Lágrimas a derramar
Oculto a se mostrar, sujeira a limpar
Apego a libertar
Águas a se misturar, a renovar
Me curo, volto a lembrar
Ser inteira de novo,
Capaz de me cuidar
Com a delicadeza e atenção minuciosa
Toque sutil, feito pétala de rosa
Orvalho na flor a pairar
A chave que procurava, acabo de encontrar
Não separar minhas partes, integrar
Ser tudo que sou, não me rebaixar
Parar de tentar me encaixar, me moldar
Deixar transbordar sem me preocupar
Com o que vão pensar ou se vão gostar
Sou meu lar, me faço confortável para morar.