Não temo

A espreitar por uma fresta

Escondida entre as trevas

A morte está a me olhar

Na penumbra dá para ver

Um sorriso nela ao me observar

Contando sorrateira

Cada dia para mais se aproximar

Talvez pense ela

Que a temo ou dela

Desejo escapar

Mas o que ela não sabe

É que não sairei do lugar

Não a temo, e faz tempo

Não tenho porque me preocupar

A olho e não ligo

Sei que está ali comigo

Não temo a partida

Nem haverá despedida

Nenhuma lágrima a lastimar

O silêncio que há tempos

Veio comigo morar

Se fará também presente

Então, por que temer a morte

Se nessa vida não tive sorte?

Sei que meu tempo finda

E mais sozinha ainda

Sigo cada dia

Uma vida fria

Entre as longas horas

Vou relembrando a história

O sonho que não se fez

Plano que no ar se desfez

E nas lágrimas se desmancharam

Entre as mãos vazias

Um frio de intensidade voraz

Um pedido

Um não

Uma espera

Em vão

A vida carrega

O coração quebra

Resta chorar

Mas, nesse tempo

Não há mais lamento

Nem porque chorar

Não o choro de tristeza

Só cabe o choro da saudade

E os sonhos

Os enganos

Já deixaram o lugar

Velados sem sepultura

Desfizeram-se no ar

Quisera eu também

Fechar os olhos

Deitar o corpo

E me desmanchar

Ganhar o vento

Pela janela voar

Romper o espaço

Vencer o tempo

Ser poeira

No teu olhar

Partículas agarradas

Entrar pelos poros

No coração me instalar

Escondida

Quietinha

Morta a amar

Sem deixar que nada

Denuncie-me por ali estar

E depois de minha morte

Pudesse eu ter a sorte

De com quem amo estar

Agora compreendes?

Não temo a morte

Temo que o amor

Siga distante

Permanecendo dor

Depois que a vida terminar

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 15/06/2024
Código do texto: T8086663
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