Uma vida
Há uma menina
Nos sonhos se encontra
Criança a sonhar
Menina perdida
Distante o seu olhar
Vida que se esvazia
Perdida
Pérfida vida
Meio sentida
Quase encerra
O seu caminhar
E na garganta
Sangra
O que não quer calar:
Quando a morte
Por sorte
Me vier buscar
E distante
O pudesse olhar
E se eu morresse
Esta triste noite
E adormecesse
Ias por mim chorar?
Ao lembrar-se
Da afinidade
Que eu tinha
Com o mar
Ao rugitar
Das ondas
Ias de mim lembrar?
Ao sentir o aroma
Das acácias
Pétalas enoveladas
A saudade iria te encontrar?
E, quem sabe
Nesse momento
Abraçada pelo vento
De novo a sonhar
Eu despertaria
Noutro dia
No teu corpo
Mesmo de um jeito torto
Só para contigo estar
E tua voz
Iria me despertar
Modulada em canto
Não haveria pranto
Mas na minha frente
A vida finda
Em sonhos ainda
Menina
Se extenua
Se desnuda
E termina
Como a cor reluzente
Do sol poente
Transparente
Água
Sol que queima
Pele como ouro velino
Brunirá
E a vida vai sumindo
Librado entre o tempo
Estrídulos
Pelo ar se propagará
E como pantera
Alto rugirá
Escondendo-se
Quase imóvel
Entre a sombra
E esfolharás
Rugindo
Emudecido
Despercebido
Pela poeira
Me sufocarás
E depois
Só depois
Entreabrirás as pálpebras
Nosso amor reclinará
E como o entardecer
A luz perderá
Sombrias trevas
Tomará todo lugar
Serena
Um horizonte de betume
E em tuas íris
Me verei docemente
Morrendo em tuas pupilas
Em ar sereno
A clausura será por fim
Perfumada como jasmim
Agora
E há tanto tempo
Perdi о sono
Oscilo entre desejos
Lampejos
Quase ensandecida
E no véu negro
Dessa noite de agonia
A pergunta me arrepia
A morte virá esta noite?
Tormento
Sem lamento
Apenas uma menina
Sonho
Ponto