Partida

Olhar paira a contemplar

Um espaço não presente

Totalmente ausente

Apenas fica a sonhar

Entre tantos planos

Restaram apenas o desengano

E um tempo prestes a findar

A consciência da morte

É quase uma imensa sorte

Pelo corpo o mal caminha

Devora essa vida que já definha

Não são essas palavras de lamento

São apenas os meus sentimentos

Triste, porque no fim da estrada

Não deixo nada

Nem uma cruz erguida

Nem um ramo murcho jogado

Sou um ipê que nunca foi florido

Mas traz secos os galhos erguidos

Sombra da morte na rama encerra!

Nem desejo o meu corpo na terra

Uma vez apenas, quero voar no vento

Tocar sem incomodar

Poder sentir o momento

Em total contemplação

E depois de tudo sentir

Cada partícula permitir

Ir devagarinho

Bem de mansinho

Me deixando depositar

No frio chão

Não mais se levantar

Fecundar a terra

Ajudar a brotar

Pequena semente

Vida a se renovar

E assim viva também estar

Mesmo no chão dos mortos

E morta por não mais respirar

Enquanto sigo entre os vivos

Sem caminhar e sem incomodar

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 13/06/2024
Código do texto: T8085281
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.