Partida
Olhar paira a contemplar
Um espaço não presente
Totalmente ausente
Apenas fica a sonhar
Entre tantos planos
Restaram apenas o desengano
E um tempo prestes a findar
A consciência da morte
É quase uma imensa sorte
Pelo corpo o mal caminha
Devora essa vida que já definha
Não são essas palavras de lamento
São apenas os meus sentimentos
Triste, porque no fim da estrada
Não deixo nada
Nem uma cruz erguida
Nem um ramo murcho jogado
Sou um ipê que nunca foi florido
Mas traz secos os galhos erguidos
Sombra da morte na rama encerra!
Nem desejo o meu corpo na terra
Uma vez apenas, quero voar no vento
Tocar sem incomodar
Poder sentir o momento
Em total contemplação
E depois de tudo sentir
Cada partícula permitir
Ir devagarinho
Bem de mansinho
Me deixando depositar
No frio chão
Não mais se levantar
Fecundar a terra
Ajudar a brotar
Pequena semente
Vida a se renovar
E assim viva também estar
Mesmo no chão dos mortos
E morta por não mais respirar
Enquanto sigo entre os vivos
Sem caminhar e sem incomodar