O ÚLTIMO POEMA

O último poema que escrevi, ninguém leu

Nem mesmo eu tive o prazer de o ler —

Era vazio e cheio de coisas estranhas

Que só cabem mesmo em minha cabeça

É possível que, por não ter começo nem fim

Eternizou-se no efémero, pelo título

Ou porque o fim revelava-se entre-linhas

Dum começo perdido

Em meio a metáforas tortas e mudas

Que apenas os defuntos entendem

E é por ninguém ter lido esse tal poema

Tanto por alto quanto de modo transversal

Que agora percebo seu sentido completo

Embora seja ambíguo, quase absurdo:

Não era poema para ler, era para sentir

Pois ele está impresso na mente de todos

Com habilidade de ler

Sem a capacidade de ouvir as sensações

Muito menos de ver —

Quem sabe, por ter sido escrito ao avesso

Na escuridão, sem candeeiro?

O último poema que escrevi aquela noite

É justamente este, que ao sabor dos ventos

Acabaste de ler contigo, sem entender.

Redigido em Kimbundu.

Tradução portuguesa do autor.