FESTA NO QUINTAL
(Poesia narrativa)
Na festa do quintal que a tia Muxima há tempos coordenou
Eu era dos primeiros a aparecer (por mais que não tenha sido convidado)
E cedo, fui abancar-me no banco da esquina, sob a árvore muhanda
Para melhor contemplar os que adentravam
Bem como os que já lá estavam
Instantes mais tarde, chegou a Kakulu, de calção apertado
Seguida de Kabasa, numa blusa transparente
E finalmente, a Fuxi, de saia curta —
(Não nos conhecíamos uns com os outros)
Todavia, no meio da festança, aproveitei para me familiarizar
Com as três —
Foi então que me apresentei, a cada uma por vez
No decorrer da noite, com a ajuda de algumas pingas de kaporoto
Cheguei a dançar com a Kakulu vezes amiúde
Pouco depois de ter dançado com a Kabasa
Enquanto a Fuxi, sentada à borda da mesa, com coxas a mostra
Degustava o sabor do mufete — prato de feijão com peixe assado
(Verdadeira guloseima)
Gostei das três imensamente
E se me coubesse a escolher, escolheria todas, de alma entregue:
A Kakulu, pelo encanto daquele sorriso nesse olhar terno e meigo
Que me oferecia —
A Kabasa, por seus peitos largos e o calor em suas falas meladas
Que me proferia —
A Fuxi, por possuir um gingar e tanta paixão nos gestos dengosos
Que me prometia —
Cada revelava uma singularidade e casta belezura
Que as demais não compartilhavam —
Fiquei confuso comigo mesmo, não sabia como agir à vista disso
Assim sendo, sorvi mais três cálices de kaporoto aos goles
Para me inspirar e encher o peito de valentia
(Que faria você em meu lugar?)
Nada obstante, me vi obrigado a tomar uma decisão repentina
Antes do fim da festa (do contrário, ficaria sem nenhuma delas)
Com tamanho receio, intuitivamente, me apostei na Kabasa
— Também, por conta das suas falas meladas e os peitos largos
Que me espreitavam e me enfeitiçavam
Mas passados três dias de namoro —
A tardinha, eu dava penso em Kakulu que poderia ter conquistado
A noitinha, meditava em Fuxi que me escapou por pouco
(E tão mais fascinante ainda
Vim a saber que as três formosas eram irmãs — curioso destino!)
Junto a mim, a Kabasa indagava-se do motivo da minha distração
Durante as tardes, e principalmente nas noites de frio
Quando em sonho, de meia voz, murmurava os nomes de outrem
Em breve, começou por desconfiar do meu comportamento esquisito
Passados três meses, cansou-se de mim e jogou-me fora de casa
Agora, por aqui, nesta palhota mal improvisada, longe da cidade
Permaneço em solidão a sós comigo
E passo a pensar unicamente nela, todas as manhãs
Ao canto do terceiro galo (como alguém consumido por obsessão)
Ainda que tudo tenha falhado entre nós.
Redigido em Kimbundu
Tradução portuguesa do autor.