Obra inacabada
Voz doce, suave, aeronave
Embarco, adentro, desbravo
Compartimentos sedentos,
Turbulentos, comprimidos ao vento
Eu, antes ao relento, compreendo
Onde estive, vivencio o agora
Enquanto vôo em direção ao futuro
Sem destino certo, me liberto
Fecho os olhos, me entrego
Ansiedade, medo, adrenalina
Se confundem, se integram
Enquanto eu colo os fragmentos
Recolhidos na viagem
Caco por caco, monto o mosaico
Sem forma definida ou cores combinando
A imagem é psicodélica
Identifico, monto, remonto
Até que a sensação indique o caminho
Olho para o que foi remontado,
Sou hipnotizada pelos buracos
Vazios, fúnebres, escarlate
Flutuo para dentro deles
Imersa percebo outros tons
Nuances nunca antes percebidas
Adormecidas, navegando ao léu
Tornam-se vivas no instante que as enxergo
Se revelam, camaleão, neon
Escuridão a se transformar
Feito fogos de artifício
A cada explosão vem o clarão
Onde o oculto, por um ínfimo instante
É visto e em seguida retoma o mistério
Me apego a esse instante,
Faço arte para relembrar
Não deixar, de novo, ofuscar
Pelas lentes da ilusão
Sempre à espreita a me assediar
Tatuo no corpo, na mente e no coração
Àquilo do qual me livrei e os suntuosos nãos
Sempre a apontar de onde saí
E para onde não quero voltar
A sedução é grande,
Limito meu espaço interno
Para que outros navegantes
Não invadam e destruam os cacos
Que acabei de juntar