Obra inacabada

Voz doce, suave, aeronave

Embarco, adentro, desbravo

Compartimentos sedentos,

Turbulentos, comprimidos ao vento

Eu, antes ao relento, compreendo

Onde estive, vivencio o agora

Enquanto vôo em direção ao futuro

Sem destino certo, me liberto

Fecho os olhos, me entrego

Ansiedade, medo, adrenalina

Se confundem, se integram

Enquanto eu colo os fragmentos

Recolhidos na viagem

Caco por caco, monto o mosaico

Sem forma definida ou cores combinando

A imagem é psicodélica

Identifico, monto, remonto

Até que a sensação indique o caminho

Olho para o que foi remontado,

Sou hipnotizada pelos buracos

Vazios, fúnebres, escarlate

Flutuo para dentro deles

Imersa percebo outros tons

Nuances nunca antes percebidas

Adormecidas, navegando ao léu

Tornam-se vivas no instante que as enxergo

Se revelam, camaleão, neon

Escuridão a se transformar

Feito fogos de artifício

A cada explosão vem o clarão

Onde o oculto, por um ínfimo instante

É visto e em seguida retoma o mistério

Me apego a esse instante,

Faço arte para relembrar

Não deixar, de novo, ofuscar

Pelas lentes da ilusão

Sempre à espreita a me assediar

Tatuo no corpo, na mente e no coração

Àquilo do qual me livrei e os suntuosos nãos

Sempre a apontar de onde saí

E para onde não quero voltar

A sedução é grande,

Limito meu espaço interno

Para que outros navegantes

Não invadam e destruam os cacos

Que acabei de juntar

Rafaela Andrade
Enviado por Rafaela Andrade em 08/06/2024
Reeditado em 08/06/2024
Código do texto: T8081429
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