Desilusão
Entre o vasto tempo que tripudia
Sem qualquer zelo por meus sentimentos
Tornei-me um fantasma enquanto ainda ardia
No meu peito esse amor que foi encantamento
E como um fantasma me refugiei um dia
Entre a solidão de uma alma morta
Por trás de troncos fiz meu túmulo, e tudo ardia,
Enquanto observava a tua porta
Senti o frio da morte no frio que ali fazia
Não era o frio que a carne corta
Mas o frio que só a alma consumia
Como aço das facas que a carne deixa morta
E o meu peito apodrecia
Pecado cometido que pelos vermes é consumido
Enquanto o corpo se contorcia
A espera da palavra que me faria ter permitido
Mas tu não vieste ver minha desgraça
Teus olhos repousaram noutra direção
E eu saí, como quem tudo disfarça
Carregando meus destroços em um velho caixão
Levando apenas para minha tumba a carcaça
E meu destruído coração
No epitáfio, mesmo que sentido não faça,
Esculpido terá: O amor lhe foi desilusão
Passarão infindáveis dias
Jamais haverá companhia
E passando por minha tumba ouvirão
O chocalho fatídico de meus ossos soando como um coração