MEU FILHO

(A todas as mães)

Antes de nascestes

não tinha a noção

do tamanho de um infinito.

Que universo

poderia habitar

num único útero?

Então

você veio,

Deus sorriu

nos seus lábios,

anjos

tomaram a forma

do teu olhar.

Eu já não era mais de mim.

Da infinda contemplação,

virei posse do objeto,

e propriedade do seu

amamentar.

Minha vida,

extensão

das suas necessidades,

serventia incansável

da sua exuberante presença.

Faltavam-me palavras,

sobravam-me lágrimas

de gratidão.

O amanhã vestiu-se

com o seu melhor

figurino de porvir,

sem antes

tentar ser presente.

Não havia

tempo cronológico

havia arrebatamento

ontológico.

Quando tu nascestes,

morreram todas as coisas

que ignoravam

a iningualável experiência

de ser mãe.

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 19/05/2024
Código do texto: T8066544
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