MEU FILHO
(A todas as mães)
Antes de nascestes
não tinha a noção
do tamanho de um infinito.
Que universo
poderia habitar
num único útero?
Então
você veio,
Deus sorriu
nos seus lábios,
anjos
tomaram a forma
do teu olhar.
Eu já não era mais de mim.
Da infinda contemplação,
virei posse do objeto,
e propriedade do seu
amamentar.
Minha vida,
extensão
das suas necessidades,
serventia incansável
da sua exuberante presença.
Faltavam-me palavras,
sobravam-me lágrimas
de gratidão.
O amanhã vestiu-se
com o seu melhor
figurino de porvir,
sem antes
tentar ser presente.
Não havia
tempo cronológico
havia arrebatamento
ontológico.
Quando tu nascestes,
morreram todas as coisas
que ignoravam
a iningualável experiência
de ser mãe.