ENCRUZILHADAS

ENCRUZILHADAS

 

Meu rio quer água e traçado,

Quer também o destino do mar,

Que virá, mesmo desperdiçado,

Pois lhe querem para irrigar.

 

Ninguém nasce tão preocupado,

Pois na bolsa, placenta é mar,

E a única dor vem do parto,

Até porque o bebê quer mamar.

 

Mas crescemos na fonte que brota,

Fazendo do olho d'água um riacho,

Que, às vezes, vai pelas grotas,

Dizer ao mundo tudo que eu acho.

 

E nós vamos seguir nos caminhos,

Celebrando tudo que se conhecer,

Como ainda haverão pergaminhos,

Nas encruzilhadas do alvorecer.

 

A cada hora tomamos decisões,

Mas a cada dia a terra desloca,

Seja no eclipse ou sem previsões,

Como ao chafurdar numa poça.

 

E quem nasce rico nunca compete,

Pois só o pobre apanha na vida,

Onde tudo nos lembra um escrete,

E quem joga melhor na partida.

 

Mas ainda viajarei leve e solto,

Ou vou com o cinto de segurança,

Enquanto alguns vão sem rosto,

Porque já morreu quem descansa.

 

Numa estrada sinuosa da serra,

Tudo é pecado ou com tentação,

Pois vem bispo e anjo à terra,

Dizendo que diabos dão a mão.

 

Só não creiam nessas aventuras,

De alguma falácia ou ganâncias,

Se mais valem nossas loucuras,

Do que um futurismo de ânsias.

 

E só calem depois de mortos,

Pois a voz é nossa esperança,

Se um mudo é como nos coitos,

Ou só geme em cada lambança.