Deserto da alma

Estou na loucura que antecede a sanidade.

Minhas ideias gladiam,

e a fé não sabe a qual possuir;

espera delas a vencedora

na qual possa encarnar,

a qual possa animar

e levar até a eternidade.

Há uma chuva de pedras secas

em meu peito, um tormento.

Estou no vale profundo

onde se aniquilam preceitos

balizadores de toda a Criação.

Estou no deserto da alma,

estou na morte do Sol.

O intelecto lança luz,

mas ela só revela um turbilhão,

uma guerra de monstros terríveis,

e, sempre a espreita,

o olhar fundo do acusador.

Este terror cava um abismo,

do qual sobe um odor melífluo,

evoca asco e sedução.

Nesta emanação eu flutuo,

sem chão, sem base.

Só vejo mui longe

o tíbio luzir

de uma possível aurora,

fraca e inviável.

Estou no deserto,

no deserto da alma.

Enilson Ferreira
Enviado por Enilson Ferreira em 06/05/2024
Reeditado em 12/05/2024
Código do texto: T8057783
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