Deserto da alma
Estou na loucura que antecede a sanidade.
Minhas ideias gladiam,
e a fé não sabe a qual possuir;
espera delas a vencedora
na qual possa encarnar,
a qual possa animar
e levar até a eternidade.
Há uma chuva de pedras secas
em meu peito, um tormento.
Estou no vale profundo
onde se aniquilam preceitos
balizadores de toda a Criação.
Estou no deserto da alma,
estou na morte do Sol.
O intelecto lança luz,
mas ela só revela um turbilhão,
uma guerra de monstros terríveis,
e, sempre a espreita,
o olhar fundo do acusador.
Este terror cava um abismo,
do qual sobe um odor melífluo,
evoca asco e sedução.
Nesta emanação eu flutuo,
sem chão, sem base.
Só vejo mui longe
o tíbio luzir
de uma possível aurora,
fraca e inviável.
Estou no deserto,
no deserto da alma.