Entre as linhas
Por vezes, de maneira despretensiosa,
Me pego misturando as palavras
Ao papel delego toda obra
E assim nele se cria uma forma harmoniosa
Deixando assim, escorrer o tempo
Esse senhor que tanto faz trapaça
E tão cedo passa tudo quanto passa!
Os desejos e sonhos, ante ao desterro,
Morrem jovens diante ao que mais jovem morre
Tudo é tão pouco!
Tudo é tão louco!
Afirma-se como verdade
O que em um tempo se imagina
Mas nada se sabe, é só o que se imagina
Verdades mal contadas
Mentiras bem enredadas
E entre tudo, o tempo que desatina
Escorre como água
Termina o tempo de menina
E o que o tempo ensina
Na angústia se amotina
Termina o que antes era infindável
Sobra tempo no tempo de agora
Só a dor não vai embora
E para do mundo esconder
Circundo-me de rosas
Para que nada se possa ver
E do tudo que antes havia
Tudo cala
O mais é nada
Prendo todos os sentimentos
Nas palavras de um poema
E assim, ao menos, agriolho-te
Não apenas ao coração
Mas nas palavras de cada composição
Para que, ao menos aqui
Entre as vogais e consoantes
Desenhado entre a tinta que escrevo
Amarras sem frescura
Não sejas deveras sombras
Que inebria esse coração pulsátil
Mediante hostil passado
Amargura nunca presa em fotografia
Apenas abandonada em pedra fria
Tempo…
Tempo de tantos sentimentos
Tempo de não haver nada
Nem mesmo uma alma penada
Ou uma palavra
Que na força do dito
Destruísse esse tempo maldito
Estrangulasse esse imperfeita ampulheta
Acabasse com esse tempo de uma vez
Recriasse outra vez
A perfeita estupidez
De saber não haver nada,
Ninguém,
É mesmo assim encontrasse a tábua
Que a alma salva
Antes que o fio movediço
Das areias que tenho visto
Se rompesse de vez
E o infecundo tempo
Trouxesse mais tormento
Fazendo-me entre as linhas
Aconchegar o corpo morto
Vivo apenas nas palavras marcadas
No papel timbradas
Entre o amor e o desgosto