PELOS RUMOS

PELOS RUMOS

 

Andei pelos rumos do meu País,

Vi todas estrelas que eu pude,

Subi por todas serras que quis,

Guiei a minha sede ao açude.

 

Vi o Ceará e cruzei paraíba,

Entrei no Pará pelo Maranhão,

Mas antes me vi no Parnaíba,

E o calor que emana do chão.

 

Foi em Teresina ou em Picos,

Que eu vi tremular o horizonte,

E ao voltar pra Bahia eu digo,

Que aqui não há rio Aqueronte.

 

E por isso aqui não há inferno,

Só o cerne do Olimpo de deuses,

Pois é casa com jeito de eterno,

Que dá colo e água da fonte.

 

A Bahia é berço igual ao nome,

Onde a paz chega com o navio,

E demonstra que finda a fome,

Entre a mata, a praia e o rio.

 

De que adianta cruzar os Andes,

Se ainda não somos condores,

Enquanto a riqueza de antes,

Não nos devolvem, ó Senhores!

 

Aqui foi a mina que tudo exporta,

E os servos só serviram ao coito,

Dizendo que um índio se aborta,

E o preto é sem alma e afoito.

 

Roubaram de tudo, esperança e vida,

Como apodrecem a beira dos rios,

E hoje ser crente é dor e ferida,

Se a fé que tortura dá calafrios.

 

O velho portuga, porco sem estudo,

Invadiu e nos matou nas bandeiras,

Queimou as tabas, sem pena e luto,

Escravizou e nos fez de esteiras.

 

E achando pouco ele foi em África,

Comprou e vendeu a vida dos povos,

Dizendo ser bichos, senão a chaga,

Sem alma e sem Deus desde novos.

 

Por isso, quem difere é um pagão,

Como foram os cristãos lá em Roma,

Ou mesmo Jesus, como vinho e pão,

Que o hebreu não aceita e difama.