CONHECEDOR DOS SILÊNCIOS
Desprovido
das ruidosas audições,
fora apresentado uterinamente
à liturgia do silêncios.
Pertencia a todos,
nomeava-os
pela caligrafia do vento,
a textura da pele da mudez
das palavras
era como nudez
de um corpo amorfo
de sons amordaçados.
Aprendera a conviver
com a ausência das falas,
dos falantes,
decifrava o alfabeto dos
olhos,
e deles empreendia a leitura
de cada alma
sedenta de quietude
No mundo cada vez mais
esquálido
nas essências do dizer,
era feliz com a
oratória dos dias mudos,
e conhecia cada silêncio
na medida exata
do que não precisava
ser dito,
nem ouvido,
apenas olvido.