Loucura e portas
Nos portais das velhas portas tantas histórias!
Tanto ali registrado nos passos por elas dados
Vozes do passado que trouxeram emoções
Fortes, entre o que marcavam, bateram fortes os corações
Tanto , por tanto tempo, foi esperado
Entre chegadas e partidas toda mudança de uma vida
E quantas vidas morreram entre as madeiras grossas
Vidas perdidas sem mesmo serem vividas
Antigas madeiras dessas velhas portas
Possuem impingidas as marcas de cada tempo
Marcas ungidas de lágrimas, lágrimas sofridas
Quantas vidas foram sonhadas e ali interrompidas
Quantas marcas foram sendo deixadas
Até que por fim chegou o dia de ultrapassá-las
Carregando tão pouco de cada um dos sonhos
Tempos infecundos, tempos de loucos
A insanidade também fez-se porta, uma doce rota
A rota que permitiu fulgas não de corpos, mas de almas
E no dia de as verter, os olhos se cerram por não conter
A verde esperança de rasgar nas novas portas outras lembranças
E depois de já romper por entre a madeira carcomida
Passo a posso volto a ter os velhos sonhos
Outras portas, outros portais, outra vida
Que a cada passo pra fora, deixam lágrimas na história
A alma já fatigada de tantas tentativas
Passa por uma porta de outro tipo de fibra
Ocorre o encontro de almas sofridas
Mas, de novo a vida, fecha a porta e tira
As chances tão sonhadas de uma nova vida
E a alma volta, passa depressa pela porta
Fecha e ali fica
A esperança antiga morre desnutrida
Portas fechadas, por elas não passa nada
Gélido lugar onde a alma ficará
Até que não as portas sejam corroídas
Mas o que mantém a vida
Entre os silêncios presos nas portas
E os gritos sofridos
Sinto perder o juízo
E já nem sei o que digo
Emaranho letras e palavras
Misturo ao ponto de não dizerem nada
E nesse nada entre o que não foi entendido
Tudo fica tão perfeitamente compreendido
Que falar já não diz nada
E é o silêncio a maior palavra
De uma alma desgarrada
Desejosa por uma porta que entregasse do outro lado
Tudo que na loucura foi sonhado