Contradições

Por tantas vezes ouvi dizer

Que nada volta a ser

O mesmo duas vezes

Nem as águas de um rio

Nenhuma história

Nem um tempo frio

Nem o amor

Nem mesmo a dor

As pessoas amanhã serão outras

A vida voa…

Outro fato sempre dito

E muito repetido

É que com o tempo

Tudo passa

E com toda paciência

Ainda contradigo

E repito em consciência

Outra frase sempre dita

Nem tudo se encaixa

Há também o que tem

Em si mesmo o que o faça

Dessa forma a vida segue

No jeito que a rege

Entre tantas afirmativas

Fatos se convergem

Todo mundo tem tristezas

Bem guardadas num lugar

Bem macio da memória

É fácil as provocar

Mas não tirá-las

Há conforto onde estão

Não há porque então

Mudar a situação

Todo mundo carrega uma culpa

É uma culpa que não se desmancha

Umas do tempo de agora

Ou até do tempo de criança

Uma cena cheia de dor

Outra de pavor

Uma saudade que não sabe sorrir

Que não cessa seu existir

Uma vergonha que ainda ruboriza a alma

Uma história cheia de calma

Um perdão que não floresceu

E outro que não recebeu

Uma lembrança que machuca relembrar

Outra que só existiu no sonhar

Pelas duas choramos devagarinho

Como quem retira um espinho

E assim vamos vivendo

Com um pouco a cada vez

Noutras sentimos tudo de uma só vez

E o que encontram nosso olhar

São o brilho das lágrimas a rolar

Choramos com a certeza

De que tudo isso é parte de nós

Seguimos cheios mas sem voz

Não podemos mudá-las

Resta apenas aprender todo dia

A conviver com elas

Tentando achar um pouco de alegria

E na dor sentida

Dar-se um abraço

Sentir o que restou

Sem apertar o laço

Que prende a dor

E a dor de ontem

Retorna agora

Com mais história

Gabriela S V
Enviado por Gabriela S V em 14/04/2024
Código do texto: T8041755
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