RESILIÊNCIA
No ocaso, onde o sol se despede em um suspiro dourado
Os braços da noite se erguem como ramalhadas
E tingem os sonhos efémeros a vagar por entre noites
Co' a luminosidade fugaz do aluar
Já que a escuridão avança conforme o corvo noturno
Sob a égide do vento impiedoso e frio
Num mundo a decair em decadência
Onde Homens e Mulheres, por mais incrível que pareça
Não se deixam submergir
Em fluxo e refluxo da melancolia
Nem pelos escombros da terra usurpada
Na certa
Choram também em tonalidades sombrias e quase
Esmaecidas no lamaçal — contudo
É a tenacidade da alma que mais prevalece
Pois a dança é o rito que sustenta tal resiliência nas veias
É prece em movimentos
Que a vida implanta no imo e nas plantas dos pés
Calejados pela dor dos tempos
Nos quais a memória e o espaço resguardam seus passos
Na noite adiantada, o eco dos rios chama em catadupas —
Escuta-se no escuro recados repletos de pesadelos
No entanto
Os sonhos persistem na busca da luz que tremeluz
Quando é chegada a hora
Por ora, o sol ainda não retornou a reassumir seu lugar
Mas aguarda na fé de um novo amanhecer
Que se lhe será trazido para lá da indigência
Onde Homens e Mulheres se reencontrarão, desta vez
Co' as mãos na massa, paz no estômago e calor no afeto
Na edificação de um porvir ensoalhado.
Redigido em Kimbundu.
Tradução portuguesa do autor.