MATERNAL

Como é forte

a tua lembrança,

o desvelo

que cultivas no olhar.

Ainda me recordo,

— como eu poderia esquecer ? —

das tuas mãos

apalpando-me o coração,

protegendo-me dos perigos,

sem que ao menos

houvesse um por perto.

Questões de hábito,

eterna devoção,

inquietante vigilância,

essa tal

incondicional forma de amar.

Nem sempre te compreendi,

minha imaturidade

impediu-me por vezes

de perceber-te

em tua sublime e

indelegável missão.

Que falta me faz teus beijos

— os da boca e os da alma.

Outro dia

teu rosto

visitou meu sonho,

senti

na onírica aparição

a textura suave

da tua pele,

a maviosa voz

a me guiar

na escuridão do quarto

em direção

à luminosidade do amanhecer.

Minha cama

tornou-se útero,

num átimo

virei átomo,

em teu seio,

o leito

se fez

leite

e amamentei-me

com o sumo da saudade.

Encolhi-me,

tentei dobrar o mundo

para estar mais perto de ti.

Em cada dobratura,

sonhei ser origami

para voar

e pousar dentro do corpo.

Mas acordei.

Uma lágrima caiu,

um sorriso saiu

tímido,

mas confiante

de que

tu virás

um dia

me buscar,

então, me apropriarei

do teu colo,

serei refém

dos teus braços,

e tu cantarás

aquela doce

e inesquecível

cantiga de ninar ...

e o teu menino,

enfim,

dormirá em paz!

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 08/04/2024
Código do texto: T8037092
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