MATERNAL
Como é forte
a tua lembrança,
o desvelo
que cultivas no olhar.
Ainda me recordo,
— como eu poderia esquecer ? —
das tuas mãos
apalpando-me o coração,
protegendo-me dos perigos,
sem que ao menos
houvesse um por perto.
Questões de hábito,
eterna devoção,
inquietante vigilância,
essa tal
incondicional forma de amar.
Nem sempre te compreendi,
minha imaturidade
impediu-me por vezes
de perceber-te
em tua sublime e
indelegável missão.
Que falta me faz teus beijos
— os da boca e os da alma.
Outro dia
teu rosto
visitou meu sonho,
senti
na onírica aparição
a textura suave
da tua pele,
a maviosa voz
a me guiar
na escuridão do quarto
em direção
à luminosidade do amanhecer.
Minha cama
tornou-se útero,
num átimo
virei átomo,
em teu seio,
o leito
se fez
leite
e amamentei-me
com o sumo da saudade.
Encolhi-me,
tentei dobrar o mundo
para estar mais perto de ti.
Em cada dobratura,
sonhei ser origami
para voar
e pousar dentro do corpo.
Mas acordei.
Uma lágrima caiu,
um sorriso saiu
tímido,
mas confiante
de que
tu virás
um dia
me buscar,
então, me apropriarei
do teu colo,
serei refém
dos teus braços,
e tu cantarás
aquela doce
e inesquecível
cantiga de ninar ...
e o teu menino,
enfim,
dormirá em paz!